
EO
ENG // PT
Beatriz Castilho
5/31/20234 min read


Never did a film make me so sad. Two months after my first experience with this film (and perhaps my last, because my tear duct can’t handle any more), I still think about it - saddening and melancholic thoughts, which already characterize me, but that deepen even more when I recall the desperate cries of the little donkey called EO as he waited for his owner’s return.
EO is a Polish film by 84-year-old director Jerzy Skolimowski, released in 2022. Inspired by the film Au Hasard Balthazar by Robert Bresson, which, in turn, is adapted from the book The Idiot (in Russian: Идиот) by Fyodor Dostoevsky. From the perspective of a donkey called EO, we observe his unfortunate life and constant abandonment as he struggles, to the best of his abilities, to survive.
It’s a powerful cinematic experience that makes extensive use of drone shots, mist, grunge aesthetics, and many, many red gel filters. All this helps us understand how this little donkey sees the world around him. It’s tense at times, for which the soundtrack can take almost all the credit. It includes several bits of metal music, creating an almost sinister atmosphere, which makes us hold our own hand, pinch it hard, and squint our eyes while asking: “please don’t hurt EO”.
It didn’t take longer than 20 minutes for this film to make me cry. In the first minutes, we see EO and his owner, Kasandra, hugging lovingly, meaningfully, and moments later we see them again under a red filter performing their typical circus routine. During the film, we see EO very subtlety and cleverly becoming all that can be expected from a four-legged animal. To Kasandra, he represents love, to all others, he’s a vehicle for transport, a support for the unprivileged, a friend, a show, and in the end, meat. EO is never more than what people need this little donkey to be. Even when we might think this animal has conscious free-will, we are automatically shocked by the nature of reality. Although we know that most animals face cruel destinies, when we see EO being beaten by a group of football fanatics, we can’t help but feel something - or as I did, cry heartedly. In the end, we know that almost all animals (and, namely, donkeys) naturally depend on us. Which makes the whole story of EO even sadder. We are the villains of this story, and there’s no escaping this judgement.
It’s not a film trying to show how animals are similar to humans, but instead, how humans can assimilate so much from the non-rational and assassin nature of the animal kingdom. This cruel weight we call conscience, it hearts us. How can we go on with our daily lives knowing that animals like EO die for us and because of us? EO is my new best friend, and I won’t let anything bad happen to him.

Nunca um filme me deixou tão triste. Após dois meses desde a minha primeira experiência com este filme (e talvez última, porque o meu saco lacrimal não aguenta com mais), ainda penso sobre ele - um pensamento triste e melancólico, que já me é característico, mas que se aprofunda ainda mais quando me lembro dos sons desesperantes do burrinho chamado EO, enquanto este esperava pelo retorno da sua dona.
EO é um filme polaco do realizador de 84 anos, Jerzy Skolimowski, lançado em 2022. Inspirado no filme Peregrinação Exemplar (Au Hasard Balthazar) de Robert Bresson, que por sua vez, é adaptado do livro O Idiota (em russo: Идиот) de Fiódor Dostoiévski. Pela ótica de um burro chamado EO, assistimos à sua vida desafortunada e constante abandono enquanto o mesmo luta, o máximo que sabe, pela sua sobrevivência.
É uma experiência cinematográfica poderosa que aproveita muita dronagem, mist, estética grunge e muitos, muitos difusores de gel vermelhos. Tudo isto ajuda a entendermos como este burrinho olha para o mundo à sua volta. É, em momentos, tenso, e a banda sonora é quase a responsável. Utiliza vários toques de música metal e um ambiente quase sinistro, que nos faz dar as mãos com nós próprios, fazer força e envesgar os olhos enquanto pedimos: “por favor, não magoem o EO”.
Não demorou mais de 20 minutos para este filme me fazer chorar. Nos primeiros minutos, vemos o EO e a sua dona, Kasandra, num abraço amoroso e cheio de sentimento, e, momentos depois, os mesmos sob um filtro vermelho a fazer a sua típica rotina de circo. Ao longo do filme vemos EO a tornar-se, de uma maneira subtil e muito inteligente, tudo o que se pode esperar de um animal de quatro patas. Para Kasandra representa amor, para outros, é um veículo transportador, um suporte para outros desfavorecidos, um amigo, um espetáculo, e, por fim, carne. EO nunca é mais do que as pessoas necessitam que este burrinho seja. Até mesmo quando pensamos que talvez este animal tenha um livre-arbítrio consciente, somos automaticamente chocados pela natureza da realidade. Apesar de estar intrínseco em nós que a maior parte dos animais têm fins cruéis, quando vemos EO a ser espancado por um grupo de fanáticos de futebol, não podemos deixar de sentir algo - ou como eu, de chorar desalmadamente. No final, sabemos que quase todos os animais, (e, nomeadamente, burros), são naturalmente dependentes de nós. O que torna toda a história de EO ainda mais triste. Somos nós os vilões desta história e não podemos escapar a esta sentença.
Não é um filme que tenta demonstrar como os animais são parecidos com humanos, mas sim, como humanos se conseguem assimilar tanto à natureza não racional e assassina do reino animal. Este peso cruel que é a nossa consciência, magoa-nos. Como podemos nós viver todos os dias, sabendo que animais, como o EO, morrem por nós e para nós? EO é o meu novo melhor amigo e eu não deixo que nada de mal lhe aconteça.